140 ANOS DA COMUNA DE PARIS

Palestra com Prof. Ronald Rocha

Orçamento Participativo 2011 do Campus de Marabá

Formulários deverão ser entregues até dia 18 de maio

140 ANOS DA COMUNA DE PARIS

Palestra com Prof. Ronald Rocha

Orçamento Participativo 2011 do Campus de Marabá

Formulários deverão ser entregues até dia 18 de maio

140 ANOS DA COMUNA DE PARIS

Palestra com Prof. Ronald Rocha

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Estudantes destaques no prêmio Jovem Extensionista da UFPA

O Campus de Marabá, foi o único campus do interior contemplado, com o Prêmio Jovem Extensionista 2009, na Jornada de Extensão da UFPA. O trabalho selecionado como um dos melhores apresentados no referido evento traz por titulo:

“Incubação de Empreendimentos Solidários através da Extensão Universitária no Campus de Marabá”.

O Prêmio este dedicado a alunos e alunas que participam de projetos, programas e demais atividades extensionistas. Cinco alunas tiveram seu artigo selecionado entre os cinco melhores da UFPA, apresentados na 12ª Jornada de Extensão da UFPA. As discentes premiadas participam do Programa de Extensão "Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Solidários do Sul e Sudeste Paraense – ITESP-UFPA/Campus Marabá" coordenado pela pedagoga Lucélia Cardoso Cavalcante Rabelo. O referido programa esta vinculado ao curso de Ciências Sociais e Agronomia.

As discentes premiadas foram:

Dalila Silva Miranda (Ciências Sociais);

Sidnéia dos Santos Reis (Ciências Sociais);

Loyanne Lima Feitosa (Agronomia);

Soraya Gonçalves dos Santos (Pedagogia);

Deiziane dos Anjos Silva (Ciências Sociais).

Segue a nota da PROEX sobre os trabalhos premiados, ver na integra no documento disponível em: http://www.4shared.com/dir/31817452/701ab217/Estudantes_Premiadas.html.

A Pró-Reitoria de Extensão divulga a relação dos vencedores do PRÊMIO JOVEM EXTENSIONISTA 2009. O Prêmio consiste numa publicação eletrônica com ISSN a ser entregue em solenidade aos ganhadores. Estes são autores e co-autores de Resumos Expandidos e Pôsteres que participaram da 12ª Jornada de Extensão/2009.

A Pró-Reitoria de Extensão, por intermédio da Diretoria de Programas e Projetos (DPP), parabeniza os discentes bolsistas e seus respectivos coordenadores de programas e projetos premiados, pela contribuição na disseminação na sociedade das tecnologias produzidas no âmbito da Universidade Federal do Pará.

Fonte: Lucélia Cardoso Cavalcante Rabelo.
Pedagoga - Campus Universitário de Marabá/UFPA.
Fone: 21017105 / 21017128.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

PROEX estabelece “Água” como eixo de atuação

PROEX estabelece “Água” como eixo de atuação

Com o lançamento do Edital de N° 4/2010 a Pró-Reitoria de Extensão da UFPA estabelece o tema ÁGUA como eixo transversal de suas atividades ao longo deste ano. A iniciativa busca identificar e selecionar propostas que problematizem o tema Água nos seus mais variados aspectos. As inscrições estarão abertas a partir do dia 1° de março e devem ser enviadas para o e-mail proex@ufpa.br.

O recurso estimado em R$ 300 mil reais poderá financiar itens de custeios como materias didáticos e gráficos para divulgação, e a concessão de bolsas. Os programas e projetos de extensão com propostas aprovadas poderão receber o valor máximo de R$ 600 reais, para gastos com custeio, e bolsa no valor de R$ 3.600 reais por bolsista (prioritariamente em situação de vulnerabilidade socioeconômica).

As propostas devem se adequar aos três tipos de chamada

A Chamada 1 irá selecionar Programas de Extensão com Experiências Inovadoras, estimulando o intercâmbio de professores extensionistas com a temática proposta. A Chamada 2 selecionará Programas e Projetos que executem módulos de experiência de inovação extensionista na temática ÀGUA. Já a Chamada 3 pretende selecionar Programas e Projetos que visem à realização de cursos de capacitação, treinamento, oficinas, cartilhas, calendários dos usos e possibilidades da Água,voltados para profissionais de todas as ciências numa perspectiva multidisciplinar, interdisciplinar e transdiciplinar.

A expectativa é que a partir desta iniciativa seja conformado um sólido campo de conhecimentos em que se formulem soluções viáveis e inovadoras de modo a restituir as relações entre cultura e ecologia. Os critérios de participação e demais informações estão disponíveis no Edital.

Serviço: Período de inscrição: de 01 a 31 de março de 2010.

Análise da documentação das propostas: de 01 a 09 de abril de 2010.

Divulgação dos resultados: até 14 de abril de 2010.

Fone: (91) 3201 – 7260

18 de fevereiro de 2010

Texto: Assessoria de Imprensa da PROEX / Foto: Wagner Meier – ASCOM


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Crise no Campus de Marabá parte 3

    A diretoria de nossa entidade por meio de reunião da Diretoria, por unanimidade aprovamos não entrar no mérito da questão de quem está certo ou errado.
    Porém, defenderemos a permanência da sede de nossa entidade onde está. Pela nossa decisão, a sede poderia ser estabelecida em outro lugar de estrutura melhor do que a atual. O espaço físico do NEES está bem localizado e concerteza se estivesse melhor conservado ou sido construído de outro material seria excelente nossa mudança para lá.
     Porém, não é o caso.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

DA NA INTERNET

Estamos montando nossa base de dados, você que é:
• Representante de turma;
• De Diretoria de Centro Acadêmico;
• Da organização de evento no Campus;
• Estudante e gostaria de receber nossos boletins.
Enviem seu e-mail para nós, informando dados da turma que representa, evento que organiza ou simplesmente sua turma.
Nossa comunicação:
E-mail: diretorioufpamab@uol.com.br;
Orkut: dajrrs@gmail.com;
Blog: www.diretorioufpamab.com;
Twitter: http://twitter.com/daufpamab;
Comunidade no orkut: Diretório Acadêmico UFPA.

Crise no Campus de Marabá parte 2

O Professor Wanderlei Padilha em conversa com nossa assessoria de imprensa, informou que não conversou com o professor José Pedro sobre questões ligadas aos espaços físicos no Campus 1 e que as afirmações de Marco Alexandre, Diretor da Faculdade de Direito, não há sentido de existirem.

ANEL: uma iniciativa que divide os lutadores na juventude!

ANEL: uma iniciativa que divide os lutadores na juventude!



Fábio Felix
Estudante de Serviço Social/UnB
Ex-Coordenador geral DCE UnB.
Coletivo Vamos à Luta OE/ UNE


Esta é uma avaliação necessária para todos os militantes do movimento estudantil que no último período protagonizou diversas lutas em todo Brasil. Este debate é importante principalmente porque após o início do Governo Lula as principais entidades históricas do movimento social, construídas na luta aprofundaram um processo de degeneração e atrelamento concreto às políticas governamentais em detrimento da aliança central com os trabalhadores e os movimentos sociais.

A CUT é a entidade que deu mais visibilidade a esta prática, primeiro porque é dirigida por um dos principais grupos petistas que está no Governo Lula, e também porque abertamente abandonou as bandeiras mais importantes dos trabalhadores para defender o governismo. Neste sentido os trabalhadores organizados numa conjuntura concreta de luta social romperam e iniciaram um processo de construção de novas ferramentas sindicais capazes de reorganizar todos os lutadores que estão no campo da oposição de esquerda ao governo. A Conlutas foi neste processo com certeza o principal instrumento, pois teve a capacidade de agregar diversos setores sociais, polarizando com a central pelega (CUT) e enfrentando as propostas do Governo. Atualmente somente a unidade de todos os setores deste campo (conlutas, intersindical e campos sindicais) será capaz de fortalecer o processo de enfrentamento ao Governo Lula e suas medidas que aprofundam a retirada de direitos dos trabalhadores.

Neste contexto o PSTU, a partir de uma transposição artificial das realidades organizativas e políticas do movimento estudantil, desencadeou em 2004 um processo de ruptura com a UNE (União Nacional dos Estudantes) e construção da CONLUTE, uma Coordenação que fosse capaz de reorganizar o movimento estudantil. Numa campanha nacional envolvendo todos os seus militantes, e polarizando com os militantes que no movimento estudantil tinha posições políticas similares iniciaram uma tática fratricida para a esquerda socialista e de oposição ao governo Lula. O resultado foi previsível a derrota dos militantes tanto os que estavam na oposição de esquerda da UNE (PSOL e independentes) como aqueles que estavam na construção da CONLUTE (PSTU e independentes) e uma vitória esmagadora da direção majoritária da UNE nestas entidades, atrasando significativamente o processo de organização dos lutadores em defesa da educação. Quando se mostrou perceptível o erro protagonizado no seio da esquerda, houve a iniciativa de diversos coletivos em organizar tanto no campo sindical como no campo estudantil um fórum que fosse capaz de pautar a unidade e contribuir com a organização da esquerda para enfrentar as medidas do Governo e reorganizar de fato com unidade o movimento estudantil de luta. A Frente de Luta contra a Reforma Universitária funcionou por consenso e foi importante na retomada dos diversos DCEs que a esquerda havia perdido em todo o Brasil e também impulsionou diversas lutas, ocupações de reitorias e movimentos que deram um novo tom na luta contra a Reforma Universitária, contra o REUNI, PROUNI e etc.

A unidade começa a se fragilizar quando mais uma vez os companheiros do PSTU iniciam um chamado para a construção de um congresso que repete o erro tático de 2004 conformando uma nova entidade estudantil. Mais uma vez não demonstrando compromisso com a unidade da esquerda e sem ter como foco a luta contra as medidas do governo, o que prejudica fundamentalmente a possibilidade da unificação da esquerda em torno de uma política. O Congresso como uma iniciativa puramente partidária que não se propõe como pólo aglutinador mais amplo da esquerda, e demonstra ter traços claros de uma ação para a captação partidária. E mais uma vez não tem impactos significativos na conjuntura. Um evento frágil, pouco representativo, e que perdeu mais entidades no caminho de sua organização do que foi capaz de agregar.

Obviamente não podemos negar os grandes equívocos que cometeram neste último período alguns setores da oposição de esquerda da UNE, que não foram capazes de fortalecer uma nova direção pra o movimento estudantil no sentido de se consolidar como alternativa ao atrelamento da direção majoritária da entidade, porém, isto não pode significar o vale tudo das organizações para sua auto-construção e o abandono da busca pela unidade.

Parte significativa dos Encontros de área que se realizaram neste último período demonstraram que os estudantes de todo o Brasil querem a unidade da esquerda para que possamos enfrentar as medidas do Governo Lula, e que não há apostas na ANEL (Nova entidade do PSTU) como alternativa estudantil nacional. A Carta de Curitiba do ANDES-SN reafirmou a necessidade de reorganizarmos a Frente de Luta Contra a Reforma Universitária e mais um Encontro Nacional com os setores sociais respeitando suas diferenças e apostando na unidade para enfrentarmos juntos as medidas do Governo Lula. Isto não será possível com a falta de vontade política daqueles que tem fetiche com a União Nacional dos Estudantes ou com aqueles que artificialmente fundam um novo instrumento que serve mais como colateral partidária do que uma alternativa estudantil. Este deve ser o chamando, diferente de como foi feito recentemente pela direção de juventude do PSTU que quer passar a nova entidade goela abaixo dos estudantes, mas a unidade tem que se dar respeitando num certo nível de diferenças táticas.

No último período houve varias lutas estudantis no Brasil, como no caso da USP, UFMT, UNAMA nas quais os estudantes lutaram em defesa da educação pública, contra o aumento das mensalidades, contra o REUNI, o PROUNI, contra a repressão no campus e deram uma boa demonstração de que há muito espaço para o movimento estudantil lutar em defesa da universidade pública, gratuita, laica e de qualidade se isto for feito com unidade.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

BANNER DA CALOURADA

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Renovação de bolsas de permanência estudantil

Atenção estão abertas a renovação das bolsas de permanência da UFPA, estudantes já inscritos podem solicitar renovação ou mudança de categoria das bolsas.

Os possuidores da bolsa de transporte está automaticamente renovada suas bolsas por mais quatro meses, ou seja, até junho.

Os demais terão que solicitar renovação ou mudança de categoria de 22 de fevereiro a 12 de março.

Os editais com os documentos a serem apresentados estão disponíveis no link: http://www.4shared.com/dir/30914959/908e8f33/Renovao_de_bolsas_da_assistnci.html 


Para moiores informações procurar Coordenadoria de Extensão do Campus Universitário de Marabá à sala 13 do Campus 1.

Fonte: Coordenadoria de Extensão - Lucélia Cavalcante Rabelo.

Crise no Campus Universitário de Marabá

Crise no Campus Universitário de Marabá



O Diretor da Faculdade de Direito Marco Alexandre da Costa Rosário acusa os professores José Pedro do Núcleo de Educação Ambiental e Wanderlei Padilha, vice-coordenador da Faculdade de Ciências Sociais de formarem complô para segundo Rosário ocupar o prédio que seria para o funcionamento do Curso de Direito.



Marco Alexandre usa palavras e ameaça deixar o cargo de Diretor, caso a sua suspeita venha a acontecer. Segundo ele, a sua permanência na Faculdade estaria comprometida, uma vez que já teria dito aos estudantes do curso ao qual dirige que o prédio reformado seria para o curso de Direito.



Nestes casos, é sempre bom ter precaução, para que situações e pessoas não sejam julgadas precipitadamente. Para falar a verdade é ótimo que isso esteja acontecendo, vamos ver se os estudantes de Direito conseguem se unir em alguma coisa. Afinal, o código penal para muitos é a única coisa que importa.



Nessa proposta, a sede do Diretório Acadêmico ficaria localizada onde hoje é o Núcleo Especializado de Necessidades Especiais (NEES).



A diretoria de nossa entidade irá discutir o assunto.



 Diretório Acadêmico José de Ribamar Rodrigues da Silva UFPA – Marabá.

Veja a prposta de do Professor José Pedro em: http://www.4shared.com/file/219636219/74f05641/MAPA_DA_DISTRIBUIO_DO_ESPAO_FS.html






Programação Calourada 2010

O Diretório Acadêmico José de Ribamar Rodrigues da Silva do Campus Universitário de Marabá da Universidade Federal do Pará Realizará o evento Calourada 2010 que tem por objetivo realizar um evento de recepção dos novos estudantes que ingressarão no 1° semestre de 2010.

Neste período serão 340 “calouros” nos cursos de Ciências Naturais, Ciências Sociais, Direito, Engenharia de Materiais, Geologia, Matemática e Química.

O evento de recepção, realizar-se-á nos dias 17, 18 e 19 de março, visando apresentar aos novos estudantes a Universidade e a comunidade acadêmica, bem como promover debates e reflexões sobre temas de grande interesse regional. O evento focará em três grandes temas, a saber:

i. Educação;

ii. Movimento Estudantil;

iii. Impacto da nova Lei de Regularização Fundiária na sociedade Regional.

Para isso, o Diretório Acadêmico convidou especialistas nos assuntos em tela.

Um evento dessa natureza cumpre três papeis fundamentais na vida acadêmica do Campus. Primeiramente, presta-se a promover a recepção e a integração dos novos estudantes através de atividades sadias e solidárias, gerando um ambiente de acolhida que muito favorece aos ingressantes. Em segundo lugar, se propõe a apresentar aos novos estudantes temas importantes de estudo e reflexão, demonstrando que na Universidade é possível aliar atividades lúdicas de integração com debates sérios e aprofundados. Por fim, procura mobilizar o próprio movimento estudantil, fortalecendo o espírito de participação dos estudantes nas suas instâncias organizativas.

Texto de Fernando Michelotti, vice-coordenador do Campus de Marabá.

Para acessar aos nosso Banner e Folder, com programação completa clique no link abaixo:


Navios-tanque traficam água de rios da Amazônia

Navios-tanque traficam água de rios da Amazônia

Seg, 08/Fev/2010 03:11 Denúncias



Estima-se que cada embarcação seja abastecida com 250 milhões de litros de água doce, para engarrafamento na Europa e Oriente Médio.



Por Chico Araújo



Brasília – É assustador o tráfico de água doce no Brasil. A denúncia está na revista jurídica Consulex 310, de dezembro do ano passado, num texto sobre a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o mercado internacional de água. A revista denuncia: “Navios-tanque estão retirando sorrateiramente água do Rio Amazonas”. Empresas internacionais até já criaram novas tecnologias para a captação da água. Uma delas, a Nordic Water Supply Co., empresa da Noruega, já firmou contrato de exportação de água com essa técnica para a Grécia, Oriente Médio, Madeira e Caribe.



Conforme a revista, a captação geralmente é feita no ponto que o rio deságua no Oceano Atlântico. Estima-se que cada embarcação seja abastecida com 250 milhões de litros de água doce, para engarrafamento na Europa e Oriente Médio. Diz a revista ser grande o interesse pela água farta do Brasil, considerando que é mais barato tratar águas usurpadas (US$ 0,80 o metro cúbico) do que realizar a dessalinização das águas oceânicas (US$ 1,50).



Anos atrás, a Agência Amazônia também denunciou a prática nefasta. Até agora, ao que se sabe nada de concreto foi feito para coibir o crime batizado de hidropirataria. Para a revista Consulex, “essa prática ilegal não pode ser negligenciada pelas autoridades brasileiras, tendo em vista que são considerados bens da União os lagos, os rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio (CF, art. 20, III).



Outro dispositivo, a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, atribui à Agência Nacional de Águas (ANA), entre outros órgãos federais, a fiscalização dos recursos hídricos de domínio da União. A lei ainda prevê os mecanismos de outorga de utilização desse direito. Assinado pela advogada Ilma de Camargos Pereira Barcellos, o artigo ainda destaca que a água é um bem ambiental de uso comum da humanidade. “É recurso vital. Dela depende a vida no planeta. Por isso mesmo impõe-se salvaguardar os recursos hídricos do País de interesses econômicos ou políticos internacionais”, defende a autora.



Segundo Ilma Barcellos, o transporte internacional de água já é realizado através de grandes petroleiros. Eles saem de seu país de origem carregados de petróleo e retornam com água. Por exemplo, os navios-tanque partem do Alaska, Estados Unidos – primeira jurisdição a permitir a exportação de água – com destino à China e ao Oriente Médio carregando milhões de litros de água.



Nesse comércio, até uma nova tecnologia já foi introduzida no transporte transatlântico de água: as bolsas de água. A técnica já é utilizada no Reino Unido, Noruega ou Califórnia. O tamanho dessas bolsas excede ao de muitos navios juntos, destaca a revista Consulex. “Sua capacidade [a dos navios] é muito superior à dos superpetroleiros”. Ainda de acordo com a revista, as bolsas podem ser projetadas de acordo com necessidade e a quantidade de água e puxadas por embarcações rebocadoras convencionais.



Há seis anos, o jornalista Erick Von Farfan também denunciou o caso. Numa reportagem no site eco21 lembrava que, depois de sofrer com a biopirataria, com o roubo de minérios e madeiras nobres, agora a Amazônia está enfrentando o tráfico de água doce. A nova modalidade de saque aos recursos naturais foi identificada por Farfan de hidropirataria. Segundo ele, os cientistas e autoridades brasileiras foram informadas que navios petroleiros estão reabastecendo seus reservatórios no Rio Amazonas antes de sair das águas nacionais.



Farfan ouviu Ivo Brasil, Diretor de Outorga, Cobrança e Fiscalização da Agência Nacional de Águas. O dirigente disse saber desta ação ilegal. Contudo, ele aguarda uma denúncia oficial chegar à entidade para poder tomar as providências necessárias. “Só assim teremos condições legais para agir contra essa apropriação indevida”, afirmou.



O dirigente está preocupado com a situação. Precisa, porém, dos amparos legais para mobilizar tanto a Marinha como a Polícia Federal, que necessitam de comprovação do ato criminoso para promover uma operação na foz dos rios de toda a região amazônica próxima ao Oceano Atlântico. “Tenho ouvido comentários neste sentido, mas ainda nada foi formalizado”, observa.



Águas amazônicas



Segundo Farfan, o tráfico pode ter ligações diretas com empresas multinacionais, pesquisadores estrangeiros autônomos ou missões religiosas internacionais. Também lembra que até agora nem mesmo com o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) foi possível conter os contrabandos e a interferência externa dentro da região.



A hidropirataria também é conhecida dos pesquisadores da Petrobrás e de órgãos públicos estaduais do Amazonas. A informação deste novo crime chegou, de maneira não oficial, ao Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), órgão do governo local. “Uma mobilização até o local seria extremamente dispendiosa e necessitaríamos do auxílio tanto de outros órgãos como da comunidade para coibir essa prática”, reafirmou Ivo Brasil.



A captação é feita pelos petroleiros na foz do rio ou já dentro do curso de água doce. Somente o local do deságüe do Amazonas no Atlântico tem 320 km de extensão e fica dentro do território do Amapá. Neste lugar, a profundidade média é em torno de 50 m, o que suportaria o trânsito de um grande navio cargueiro. O contrabando é facilitado pela ausência de fiscalização na área.



Essa água, apesar de conter uma gama residual imensa e a maior parte de origem mineral, pode ser facilmente tratada. Para empresas engarrafadoras, tanto da Europa como do Oriente Médio, trabalhar com essa água mesmo no estado bruto representaria uma grande economia. O custo por litro tratado seria muito inferior aos processos de dessalinizar águas subterrâneas ou oceânicas. Além de livrar-se do pagamento das altas taxas de utilização das águas de superfície existentes, principalmente, dos rios europeus. Abaixo, alguns trechos da reportagem de Erick Von Farfan:



O diretor de operações da empresa Águas do Amazonas, o engenheiro Paulo Edgard Fiamenghi, trata as águas do Rio Negro, que abastece Manaus, por processos convencionais. E reconhece que esse procedimento seria de baixo custo para países com grandes dificuldades em obter água potável. “Levar água para se tratar no processo convencional é muito mais barato que o tratamento por osmose reversa”, comenta.



O avanço sobre as reservas hídricas do maior complexo ambiental do mundo, segundo os especialistas, pode ser o começo de um processo desastroso para a Amazônia. E isto surge num momento crítico, cujos esforços estão concentrados em reduzir a destruição da flora e da fauna, abrandando também a pressão internacional pela conservação dos ecossistemas locais.



Entretanto, no meio científico ninguém poderia supor que o manancial hídrico seria a próxima vítima da pirataria ambiental. Porém os pesquisadores brasileiros questionam o real interesse em se levar as águas amazônicas para outros continentes. O que suscita novamente o maior drama amazônico, o roubo de seus organismos vivos. “Podem estar levando água, peixes ou outras espécies e isto envolve diretamente a soberania dos países na região”, argumentou Martini.



A mesma linha de raciocínio é utilizada pelo professor do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Universidade Federal do Paraná, Ary Haro. Para ele, o simples roubo de água doce está longe de ser vantajoso no aspecto econômico. “Como ainda é desconhecido, só podemos formular teorias e uma delas pode estar ligada ao contrabando de peixes ou mesmo de microorganismos”, observou.



Essa suposição também é tida como algo possível para Fiamenghi, pois o volume levado na nova modalidade, denominada “hidropirataria” seria relativamente pequeno. Um navio petroleiro armazenaria o equivalente a meio dia de água utilizada pela cidade de Manaus, de 1,5 milhão de habitantes. “Desconheço esse caso, mas podemos estar diante de outros interesses além de se levar apenas água doce”, comentou.



Segundo o pesquisador do Inpe, a saturação dos recursos hídricos utilizáveis vem numa progressão mundial e a Amazônia é considerada a grande reserva do Planeta para os próximos mil anos. Pelos seus cálculos, 12% da água doce de superfície se encontram no território amazônico. “Essa é uma estimativa extremamente conservadora, há os que defendem 26% como o número mais preciso”, explicou.



Em todo o Planeta, dois terços são ocupados por oceanos, mares e rios. Porém, somente 3% desse volume são de água doce. Um índice baixo, que se torna ainda menor se for excluído o percentual encontrado no estado sólido, como nas geleiras polares e nos cumes das grandes cordilheiras. Contando ainda com as águas subterrâneas. Atualmente, na superfície do Planeta, a água em estado líquido, representa menos de 1% deste total disponível.



A previsão é que num período entre 100 e 150 anos, as guerras sejam motivadas pela detenção dos recursos hídricos utilizáveis no consumo humano e em suas diversas atividades, com a agricultura. Muito disto se daria pela quebra dos regimes de chuvas, causada pelo aquecimento global. Isto alteraria profundamente o cenário hidrológico mundial, trazendo estiagem mais longas, menores índices pluviométricos, além do degelo das reservas polares e das neves permanentes.



Sob esse aspecto, a Amazônia se transforma num local estratégico. Muito devido às suas características particulares, como o fato de ser a maior bacia existente na Terra e deter a mais complexa rede hidrográfica do planeta, com mais de mil afluentes. Diante deste quadro, a conclusão é óbvia: a sobrevivência da biodiversidade mundial passa pela preservação desta reserva.



Mas a importância deste reduto natural poderá ser, num futuro próximo, sinônimo de riscos à soberania dos territórios panamazônicos. O que significa dizer que o Brasil seria um alvo prioritário numa eventual tentativa de se internacionalizar esses recursos, como já ocorre no caso das patentes de produtos derivados de espécies amazônicas. Pois 63,88% das águas que formam o rio se encontram dentro dos limites nacionais.



Esse potencial conflito é algo que projetos como o Sistema de Vigilância da Amazônia procuram minimizar. Outro aspecto a ser contornado é a falta de monitoramento da foz do rio. A cobertura de nuvens em toda Amazônia é intensa e os satélites de sensoriamento remoto não conseguem obter imagens do local. Já os satélites de captação de imagens via radar, que conseguiriam furar o bloqueio das nuvens e detectar os navios, estão operando mais ao norte.



As águas amazônicas representam 68% de todo volume hídrico existente no Brasil. E sua importância para o futuro da humanidade é fundamental. Entre 1970 e 1995 a quantidade de água disponível para cada habitante do mundo caiu 37% em todo mundo, e atualmente cerca de 1,4 bilhão de pessoas não têm acesso a água limpa. Segundo a Water World Vision, somente o Rio Amazonas e o Congo podem ser qualificados como limpos.





Marion Heinrich

Depto. Jurídico

Confederação Nacional de Municípios - CNM



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Estudantes protestam contra o aumento da tarifa

Estudantes protestam contra o aumento da tarifa


Estudantes universitários, secundaristas e membros de sindicatos de rodoviários protestam neste momento em frente à sede da prefeitura de Belém contra o reajuste da tarifa de ônibus, que aumentou para R$ 1,85 o preço da passagem na região metropolitana de Belém, na última quarta-feira (3).

O protesto começou às 11h e reune cerca de 60 pessoas, munidas com faixas, cartazes e panfletos. "A ideia é tornar pública a nossa indignação e mobilizar a população para um ato ainda maior. O Ministério Público Estadual deve revogar o aumento da passagem", disse o estudante Denis Melo. Segundo ele, o protesto conta com a presença de alunos da UFPA, Unama, FAP e Uepa, além de membros do Sintram (Sindicato dos Rodoviários de Ananindeua e Marituba) e do Sindsep (Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Federal).

"Ja entramos com uma ação contra o reajuste da passagem via Ministério Público e exigimos que a tarifa volte a custar R$ 1,70. Além da ação jurídica, vamos organizar vários atos contra essa medida que só beneficiou os empresários. Belém sobrevive até com hoje com a mesma frota de 10, 15 anos atrás", disse Márcio Amaral, presidente do Sintram.

Mais informações em instantes.

Atualizado às 12h32







AS IDEIAS DEMONÍACAS DOS DIREITOS HUMANOS

AS IDEIAS DEMONÍACAS DOS DIREITOS HUMANOS

Por Marcelo Salles, 08.01.2010



Poucas vezes uma iniciativa foi tão atacada pela direita e suas corporações de mídia quanto o Programa Nacional de Direitos Humanos. Mas não sem razão. Uma proposta como, por exemplo, a cobrança de impostos sobre grandes fortunas é realmente de arrepiar os cabelos de quem sempre os deitou sobre a riqueza nacional – ainda que esta medida esteja prevista na Constituição Federal e seja adotada pelos países que mais progrediram no mundo.

Propor um maior controle sobre a esculhambação e as mutretas que envolvem as concessões de rádio e tv só pode ser um escândalo para aqueles que fazem fortuna ao se arvorarem proprietários do espectro eletromagnético que pertence a todo o povo brasileiro.

Fiscalizar os latifúndios num país em que 1% de senhores feudais controla quase metade das terras só pode ser comparado à criação de um “demônio”, no dizer da senadora Kátia Abreu, do DEM, partido que tem suas raízes na golpista UDN.

Deve mesmo ser demoníaca a ideia de garantir direitos aos gays, lésbicas, travestis e toda essa gente que ofende pelo único pecado de ser diferente. Assim como só pode ser obra do capeta a proposta de ampliar a participação direta do povo via plebiscitos, referendos, leis e vetos populares. Por que as massas deveriam decidir diretamente os seus destinos, se sempre, desde o genocídio inaugural, são vistas como mão-de-obra barata e mal qualificada?

Poucas vezes na história desse país uma iniciativa de um governo foi tão bombardeada pela mídia, tanto em intensidade quanto na sua duração. Há pelo menos 15 dias rádios, jornais e tvs de todo o país partem para o ataque escancarado daqueles que defendem uma proposta democrática para o Brasil.

Para isso, omitem informações, descontextualizam fatos e até mesmo mentem. Um bom exemplo é a surrada versão de que o que se pretende com a Comissão da Verdade é rever a Lei de Anistia. Mentira. O que existe é uma solicitação da OAB ao Supremo Tribunal Federal sobre dispositivos de interpretação contraditória. A Constituição Federal, por exemplo, considera que a prática da tortura não pode ser objeto de graça ou anistia. Tratados internacionais estabelecem que crimes de lesa-humanidade, como a tortura, são imprescritíveis. Comissões de Verdade funcionaram ou funcionam muito bem em outros países, e isto é sistematicamente escondido por meios de comunicação.

Mas não é só isso. O fato de a Secretaria de Direitos Humanos só aparecer nas corporações de mídia nesse contexto é, por si só, bastante revelador dos propósitos das corporações de mídia. É como se não houvesse políticas públicas de defesa dos direitos das crianças e adolescentes, de pessoas com deficiência, idosos, LGBT, além dos programas de proteção a pessoas ameaçadas, combate ao trabalho escravo e até uma Ouvidoria-geral da cidadania. Iniciativas que poderiam ser potencializadas pela visibilidade que lhe negam.

E assim funciona a velha lógica do sistema: os ataques da direita identificam os demônios para que sejam esconjurados por sua mídia. Mas até que isso tem sua serventia. Revela a urgência da democratização dos meios de comunicação de massa e deixa os inimigos da democracia completamente expostos – todos com cara de santo, naturalmente.


Haiti: Comunicado das organizações populares

Haiti: Comunicado das organizações populares

Escrito por Movimentos sociais haitianos

01-Fev-2010



"Honra e respeito à população de Porto Príncipe! Foi a extraordinária solidariedade manifestada pela população da região metropolitana que durante os três primeiros dias depois do terremoto respondeu com a auto-organização, construindo 450 campos de refugiados, que contribuiu para salvar milhares de pessoas, graças ao fato de partilharem de forma comunitária todos os recursos disponíveis (alimentos, água, roupas)".



O relato é do comunicado redigido por uma série de organizações populares do Haiti acerca da catástrofe que atingiu o país. As organizações declaram também sua "indignação frente à utilização da crise haitiana para justificar uma nova invasão norte-americana de 20 mil marines (...) não aceitamos que o nosso país seja transformado em uma base militar", afirmam elas.



Eis o comunicado em sua íntegra.



A todos os nossos aliados: 



No dia 12 de janeiro de 2010, um terremoto de enorme violência atingiu nosso país com conseqüências dramáticas para as populações de vários municípios dos Departamentos do Oeste, do Sudeste e do conjunto do país. Este terremoto de magnitude 7,3 na escala Richter e as perdas irreparáveis que provocou enlutaram nosso país, deixando dores insuportáveis. Este drama que nos afeta hoje é sem dúvida alguma um dos mais graves de nossa história e causa de um traumatismo profundo que marcará o século XXI haitiano.



Os balanços parciais até aqui tentam medianamente expressar uma realidade espantosa e indizível: o horror que vivemos juntos durante estes 35 segundos intermináveis que em 12 de janeiro deixou um pesado tributo de dores e de lágrimas. Mais de 150 mil mortos, 500 mil feridos, mais de um milhão sem teto, dezenas de milhares de amputados, mais de 300 mil pessoas refugiadas, mais de três milhões de seres devastados que, em um minuto, viram se transformar para sempre suas vidas, suas famílias e suas sociedades. Uma sociedade inteira traumatizada que vive no medo permanente de um possível novo terremoto.



Todas as nossas organizações foram profundamente sacudidas por este acontecimento. Perdemos familiares, companheiros de trabalho, crianças, jovens, profissionais cheios de promessas, de sonhos e de capacidades; edifícios, equipes, ferramentas de trabalho e uma documentação imensa baseada em mais de 30 anos de experiências coletivas com as organizações e as comunidades de base. As perdas são imensas e irreparáveis.



É indispensável, apesar da dor que todos e todas sentimos, refletir sobre o que acaba de acontecer e tirar dessa experiência trágica as lições e as orientações que nos permitam continuar com o nosso incansável trabalho de construção de outro país, capaz de vencer o ciclo de desgraça e dependência e de se colocar à altura dos sonhos de emancipação universal de seus fundadores e de todo o povo haitiano.



O tamanho do desastre está vinculado, sem dúvida alguma, à natureza do Estado em nosso país, uma herança histórica colonial e neocolonial, e a implementação das políticas neoliberais ao longo das últimas três décadas. A hipercentralização ao redor da ‘República de Porto Príncipe’ definida pela ocupação norte-americana de 1915 é sem dúvida um dos fatores determinantes. Em particular, a liberalização completa do mercado dos bens imobiliários abriu um espaço de especulação desenfreada aos aproveitadores de todo tipo.



Comove-nos profundamente a extraordinária solidariedade manifestada pela população da região metropolitana que durante os três primeiros dias depois do terremoto respondeu com a auto-organização, construindo 450 campos de refugiados que contribuíram para salvar milhares de pessoas, graças ao fato de que partilharam de forma comunitária todos os recursos disponíveis (alimentos, água, roupas). Honra e respeito à população de Porto Príncipe! Estes mecanismos espontâneos de solidariedade devem desempenhar um papel essencial no processo de reconstrução e de reconceituação do espaço nacional.



Enviamos esta carta a nossos colaboradores das diversas redes nacionais e internacionais, das quais fazemos parte, com o objetivo de informar sobre os passos que temos dado e sobre nossos objetivos a curto, médio e longo prazo.



Faz mais de uma semana que nosso grupo de organizações e de plataformas se reúne com freqüência, com o objetivo de fazer frente a esta nova situação, definindo novas estratégias e implementando novas maneiras de trabalhar. Assim, nós, os responsáveis das organizações e plataformas que assinamos esta carta, depois de vários encontros para analisar a nova situação e definir estratégias comuns, adotamos uma posição baseada nos seguintes eixos:



- Contribuir para preservar os principais êxitos dos movimentos sociais e populares haitianos ameaçados pela nova situação;



- Contribuir na resposta às necessidades urgentes da população organizando centros de serviços comunitários capazes de responder de forma adequada às seguintes necessidades: alimentação, atenção à saúde primária, assistência médica e psicológica em resposta aos traumas sofridos no momento do terremoto;



- Aproveitar o fato de que os grandes meios de comunicação olham nosso país para difundir uma imagem diferente da projetada pela forças imperialistas;



- Implementar novas formas de atuar que permitam superar a atomização e a dispersão que constituem uma das principais debilidades de nossas organizações. Este processo de aproximação deve se constituir com a estruturação de um espaço comum que possa acolher provisoriamente nossas seis equipes que continuam trabalhando de modo autônomo, uma vez que implementaram mecanismos permanentes de intercâmbios e de trabalhos mutualizados. Estaremos atentos em fazer prevalecer um enfoque coletivo na busca de respostas comuns a nossos problemas na construção de uma alternativa democrática popular, efetiva e viável.



Quanto à situação de urgência, estamos instalando centros de serviços. Um de nossos centros já implementado e em operação acolhe 300 pessoas que recebem comida duas vezes ao dia e estão protegidas sob tendas.



O centro oferece também consultas médicas e acompanhamento psicológico. Estes serviços são também proporcionados às pessoas que moram nos campos de refugiados na região. No centro da avenida Popupelard funciona graças ao apoio de profissionais haitianos (médicos, enfermeiros, psicólogos, trabalhadores sociais) apoiados por médicos alemães a organização de socorro Cabo Anamur. Tratamos de instalar centros similares em outros bairros da região metropolitana duramente afetada pelo terremoto,  nos quais não existe nenhuma oferta de serviços dessa natureza. Instalaremos quatro outros centros nos bairros de Carrefour, Martissant, Fontamara e Gressier. Contamos com a solidariedade de todos os nossos colaboradores para assegurarmos um funcionamento eficiente.



Ao mesmo tempo, nossas duas plataformas e quatro organizações instalaram um ponto focal de encontros e de coordenação no local de FIDES-Haïti. Estamos dispostos a acolher nesses espaços novas plataformas e organizações do movimento democrático popular.



Comprometemo-nos em mobilizar os diferentes componentes desse movimento para ampliar os esforços de socorro aos sobreviventes e, de outro lado, formular um plano comum para a reabilitação de nossas instituições e organizações. Apresentaremos esse plano e os projetos concretos que o acompanham brevemente.



A ajuda urgente da qual participamos é alternativa e temos a intenção de desenvolver um trabalho de denúncia das práticas tradicionais em matéria de intervenções humanitárias, as quais não respeitam a dignidade das vítimas e se inscrevem no marco de um processo de fortalecimento de nossa dependência. Lutamos por uma ajuda humanitária adaptada e respeitosa com a nossa cultura e nosso entorno, que não destrua as construções de economia solidária elaboradas há várias décadas pelas organizações de base com as quais trabalhamos.



Para terminar, queremos saudar a extraordinária generosidade da opinião pública mundial manifestada pelo drama que vivemos. Somos gratos e acreditamos que é o momento de construir um novo olhar sobre o nosso país, que permita construir uma solidariedade autêntica livre dos reflexos paternalistas de piedade e inferiorizarão.



Deveríamos trabalhar para manter esta vigorosa solidariedade para além da excitação midiática. A resposta à crise demonstra que em certas situações os povos do mundo são capazes de ir para além das leituras superficiais e estereotipadas de corte sensacionalista.



A ajuda humanitária massiva é hoje indispensável dada a amplitude da catástrofe, mas deve ser estruturante, articulando-se com uma visão diferente do processo de reconstrução. Deve romper com os paradigmas que dominam os circuitos tradicionais da ajuda internacional. Desejaríamos ver nascer brigadas internacionalistas de solidariedade que trabalhariam junto com as nossas organizações na luta pela realização de uma reforma agrária e de uma reforma territorial urbana integrada à luta contra o analfabetismo e para o repovoamento florestal, na edificação de novos sistemas educativos e de saúde universais, descentralizados e modernos.



Devemos também proclamar nossa cólera e nossa indignação frente à utilização da crise haitiana para justificar uma nova invasão de 20 mil marines norte-americanos. Denunciamos o que pode converter-se em uma nova ocupação militar, a terceira de nossa história por tropas norte-americanas. Inscreve-se obviamente na estratégia de remilitarização do Caribe no marco da resposta do imperialismo à rebelião crescente dos povos do continente frente à mundialização neoliberal.



Inscreve-se também em uma estratégia de guerra preventiva frente a uma insurreição eventual e social que viria de um povo esmagado pela miséria e que se encontra em uma situação de desespero. Denunciamos o modelo aplicado pelo governo norte-americano e a resposta militar frente a uma trágica crise humanitária.



Ao se apoderar do aeroporto Toussaint Louverture e de outras infra-estruturas estratégicas do país, privaram o povo haitiano de uma parte das contribuições que vinham do CARICOM, da Venezuela e de alguns países europeus. Denunciamos o método aplicado e não aceitamos que o nosso país seja transformado em uma base militar.



Nós, dirigentes das organizações e das plataformas iniciadoras dessa gestão, escrevemos-lhes hoje para transmitir nossa primeira análise da situação. Estamos convencidos de que vocês – como já têm demonstrado – continuarão acompanhando nosso trabalho e nossa luta no marco da construção de uma alternativa nacional, que será fonte do renascimento de nosso país, golpeado por uma catástrofe horrível e que lutará para sair do ciclo da dependência.



Porto Príncipe, 27 de janeiro de 2010.



Pelo Comitê de coordenação:



Sony Estéus - Diretor SAKS

Camille Chalmers - Diretor PAPDA   

Marie  Carmelle Fils-Aimé – Officier de Programme  ICKL   

Pelas organizações e plataformas que participam dessa iniciativa:    

Marc Arthur Fils-Aimé, Institut Culturel Karl Léveque (ICKL)

Maxime J. Rony, Programme alternatif de Justice (PAJ)

Sony Estéus, Sosyete Animasyon ak Kominikasyon Sosyal (SAKS)

Chenet Jean Baptiste, Institut de Technologie et d’animation (ITECA)

Antonal Mortimé



Plataforma de Organizações Haitianas de Direitos Humanos (POHDH) que agrupa: Justice et Paix (JILAP), Centre de recherches Sociales et de Formation pour le Développement (CRESFED), Groupe Assistance Juridique (GAJ), Institut Culturel Karl Léveque (ICKL), Programme pour une Alternative de Justice (PAJ), Sant Karl Lévèque (SKL), Réseau National de Défense des Droits Humains (RNDDH), Conférence haïtienne des Religieux (CORAL-CHR)



Camille Chalmers, Plataforma haitiana de Advocacia por Desenvolvimento Alternativo (PAPDA) que agrupa : Institut de Technologie et d’animation (ITECA), Solidarite Fanm Ayisyèn (SOFA), Centre de Recherches Actions pour le Développement (CRAD), Mouvaman Inite Ti Peyizan Latibonit (MITPA), Institut Culturel Karl Léveque (ICKL), Association Nationale des Agroprofessionnels Haïtiens (ANDAH).



A tradução é do Cepat, de Curitiba, Paraná.



Educação em tempos de Fórum

Educação





Neiva Lazzarotto


Seg, 01 de fevereiro de 2010 14:26



Em tempos de Fórum Social Mundial e Fórum da Educação (Sapiranga) e quando a Unesco divulga novos relatórios sobre a educação, convêm algumas reflexões.



A começar pelo fato de que o presidente Lula tem propagandeado que o Brasil, que hoje se situa entre a oitava e a 10ª economia mundial, poderá tornar-se a quinta economia do planeta.



Como explicar, então, que é o 69º em IDH - Índice de Desenvolvimento Humano - e, mais grave, o 88º em índice de desenvolvimento da educação, atrás de Honduras, Equador e Paraguai? Que é o líder em repetência no Ensino Fundamental na América Latina, com a média 18,7%, bem acima dos 4,4% da média regional e dos 2,9% da média mundial? Que tem 14 milhões de analfabetos ou 35 milhões de analfabetos funcionais, quando Bolívia, Venezuela e Peru estão livres do analfabetismo? Que apenas 37% das escolas dispõem de biblioteca? E por aí vai.



Não há dúvida de que é devido ao modelo de desenvolvimento concentrador de renda, que compromete 43% do PIB no pagamento da dívida e destina 1% para as bolsas sociais, que investe menos de 5% do PIB, ou 3,8% do orçamento federal em educação. Modelo levado adiante pelo governo Lula e seus aliados PMDB, PTB, PP, muito semelhante ao defendido pelo seu antecessor, PSDB.



A segunda reflexão é que, como parte da política de ajuste nos gastos públicos adotada pelos governos federal, estaduais e por muitos municípios, como Novo Hamburgo, além dos ataques aos planos de carreira, agora o MEC decidiu rebaixar o valor do piso salarial nacional dos professores. Em 2010, o valor do Piso Salarial Profissional Nacional deveria ser de R$ 1.312, mas o MEC recomenda que ele seja de apenas R$ 1.024, reajustado pelo INPC e não mais pelo custo-aluno previsto na lei que o criou.



É um retrocesso! Se já não bastasse o pedido de inconstitucionalidade encabeçado pela governadora Yeda Crusius, agora fica claro que o governo Lula lava as mãos de vez.



Então, além da luta que nos inspira o Fórum Social Mundial por outro modelo de sociedade necessário e urgente, afinal aí está o Haiti como expressão mais dramática, precisamos de uma educação compatível com o tamanho do Brasil. A quinta economia mundial tem que ter a quinta educação do planeta. Precisamos de um PNE - Plano Nacional de Educação - que contemple investir no mínimo 10% do PIB em educação. Adotar o turno integral na educação pública. Erradicar o analfabetismo. E garantir valorização dos educadores, a começar pelo piso salarial nacional. Ou não é possível, em tempos de pré-sal?



A terceira reflexão é que o governo Yeda ficará com a marca de "anos perdidos na educação". No entanto, aos milhares de educadores participantes do FSM caberá debater esses temas e construir uma mobilização social para reverter esse quadro. Seguir o exemplo do Rio Grande, onde o Cpers se uniu aos demais servidores, em especial à Brigada Militar, e impôs uma derrota ao governo Yeda, evitando a destruição dos planos de carreira e a implantação da meritocracia aqui. Por isso, defenderemos no FSM a organização de uma Grande Marcha da Educação a Brasília, unindo educadores estaduais e municipais de todo o país para impedir o retrocesso do piso salarial, pois ele é condição mínima para a valorização profissional. Unir CNTE, os sindicatos e federações de professores municipais e todas as centrais sindicais.



Neiva Lazzarotto é vice-presidente do Cpers e do PSol-RS



[Publicado no jornal Zero Hora de 27/01/2010]



Carlos Nelson Coutinho: "Sem democracia não há socialismo, e sem socialismo não há democracia"

Carlos Nelson Coutinho, um dos intelectuais marxistas mais respeitados do Brasil, recebeu a Caros Amigos em seu apartamento no bairro do Cosme Velho, Rio de Janeiro, para uma conversa sobre os caminhos e descaminhos da esquerda brasileira, sua decepção com o governo Lula e as possibilidades de superação do capitalismo.

Estudioso de Antonio Gramsci, Coutinho defende a atualidade de Marx e reafirma o que disse em seu polêmico artigo "Democracia como valor universal", publicado há 30 anos: "Sem democracia não há socialismo, e sem socialismo não há democracia"

Hamilton Octávio de Souza- Queremos saber da sua história. Onde nasceu, onde foi criado, como optou por esta carreira ..

Carlos Nelson Coutinho - Nasci na Bahia, em uma cidade do interior chamada Itabuna, mas fui para Salvador muito pequenininho, com uns 3 ou 4 anos. Me formei em Salvador, e as opções que eu fiz, fiz em Salvador. Eu nasci em 1943, glorioso ano da batalha de Stalingrado. Me formei em filosofia na Universidade Federal da Bahia, um péssimo curso, e com meus 18 ou 19 anos sabia mais do que a maioria dos professores. Meus pais eram baianos também. Meu pai era advogado e foi deputado estadual durante três legislaturas da UDN. Publicamente ele não era de esquerda, mas dentro de casa ele tinha uma posição mais aberta. Eu me tomei comunista lendo o Manifesto Comunista que o meu pai tinha na biblioteca. Ele era um homem culto, tinha livros de poesia. Minha irmã, que é mais velha, disse que eu precisava ler o Manifesto Comunista. Foi um deslumbramento. Eu devia ter uns 13 ou 14 anos. Aí fiz faculdade de Direito por dois anos porque era a faculdade onde se fazia política, e eu estava interessado em fazer política. Me dei conta que uma maneira boa de fazer política era me tomando intelectual. Aos 17 anos entrei no Partido Comunista Brasileiro, que naquela época tinha presença. O primeiro ano da faculdade foi até interessante porque tinha teoria geral do Estado, economia política, mas quando entrou o negócio de direito penal, direito civil, ai eu vi que não era a minha e fui fazer filosofia.

Renato Pompeu - Mas quais eram as suas referências intelectuais?

Carlos Nelson Coutinho - Em primeiro lugar, Marx, evidentemente, mas também foram muito fortes na minha formação intelectual o filósofo húngaro George Lukács e Gramsci. Eu tenho a vaidade de ter sido um dos primeiros a citar Gramsci no Brasil, porque aos 18 anos eu publiquei um artigo sobre ele na revista da faculdade de Direito. Aí eu vim para o Rio e fui trabalhar no Tribunal de Contas. Me apresentei ao João Vieira Filho para trabalhar e ele me falou: "meu filho, vá pra casa e o que você precisar de mim me telefone", Eu fiquei dois ou três anos aqui sem trabalhar, mas a situação ficou inviável. Pedi demissão e fui, durante Um bom tempo, tradutor. Eu ganhava a vida como tradutor, traduzi cerca de 80 ou 90 livros. Em 76, eu fui para a Europa. Passei 3 anos fora, não fui preso, mas senti que ia ser, foi pouco depois da morte do Vlado. Então morei na Europa por três anos, onde acho que aprendi muita política. Morei na Itália na época do florescimento do eurocomunismo, que me marcou muito. O primeiro texto que publiquei é exatamente este artigo da "Democracia como valor universal" que causou, sem modéstia, um certo auê na esquerda brasileira na época. Até hoje há citações de que é um texto reformista, revisionista. Enfim, voltei do exílio e entrei na universidade, na UFRJ, onde eu estou há quase 28 anos. Passei por três partidos políticos na vida. Entrei no PCB, como disse antes, aos 17 anos, onde fiquei até 1982, quando me dei conta que era uma forma política que tinha se esgotado. Nesse momento, surge evidentemente uma coisa que o PC não esperava e não queria, que é um partido realmente operário, no sentido de ter uma base operária. O mal-estar do PCB contra o PT no primeiro momento foi enorme. Eu saí do PCB, mas não entrei logo no PT. Só entrei no PT no final da década de 80, entrei junto com o [Milton] Temer e o Leandro Konder. Fizemos uma longa discussão para ver se entrávamos ou não, e ficamos no PT até o governo Lula, quando nos demos conta que o PT não era mais o PT. Saí e fui um dos fundadores do PSOL, que ainda é um partido em formação. Ele surge num momento bem diferente do momento de formação do PT, de ascensão do movimento social articulado com a ascensão do movimento operário. E o PSOL surge exatamente em um momento de refluxo. Nessa medida, ele é ainda um partido pequeno, cheio de correntes. Eu sou independente, não tenho corrente. Podemos dizer o seguinte: eu tinha um casamento monogâmico com o PCB, com o PT já me permitia traições e no PSOL é uma amizade colorida.

Tatiana Merlino - Em uma entrevista recente o senhor falou sobre o avanço e o triunfo da pequena política sobre a grande política dentro do governo lula. Você pode falar um pouco sobre isso?

Carlos Nelson Coutinho - Gramsci faz uma distinção entre o que chama de grande política e pequena política. A grande política toma em questão as estruturas sociais, ou para modificá-las, ou para conservá-las. A pequena política, para ele, Gramsci, é a política da intriga, do corredor, a intriga parlamentar, não coloca em discussão as grandes questões. Durante algum tempo, o Brasil passou por uma fase de grande política. Se a gente lembrar, por exemplo, a campanha presidencial de 89, sobretudo o segundo turno, tinha duas alternativas claras de sociedade. Não sei se, caso o PT ganhasse, ia cumpri-la, mas, do ponto de vista do discurso, tinha uma alternativa democrático-popular e uma alternativa claramente neoliberal. Até certo momento, no Brasil, nós tivemos uma disputa que Gramsci chamaria de grande política. A partir, porém, sobretudo, da vitória eleitoral de Lula, eu acho que a redução da arena política acaba na pequena política, ou seja, que no fundo não põe em discussão nada estrutural. Eu diria que é a política tipo americana. Obviamente o Obama não é o Bush, mas ninguém tem ilusão de que o Obama vai mudar as estruturas capitalistas dos Estados Unidos, ou propor uma alternativa global de sociedade. Então, o que está acontecendo no Brasil é um pouco isso, dando Dilma ou dando Serra não vai mudar muita coisa não. Até às vezes desconfio que o Serra pode fazer uma política menos conservadora, mas depois vão me acusar de ter aderido a ele. Eu até faço uma brincadeira, dizendo que a política brasileira "americanalhou", virou essa coisa ... Então, neste sentido eu entrei no PSOL até com essa ideia de criar uma proposta realmente alternativa. Infelizmente o PSOL não tem força suficiente para fazer essa proposta chegar ao grande público, mas é uma tentativa modesta de ir contra a pequena política.

Renato Pompeu - Você não acha que esse americanalhamento aconteceu na própria pátria do Gramsci?

Carlos Nelson Coutinho - Ah, sem dúvida. A predominância da pequena política é uma tendência mundial. Me lembro que logo depois da abertura eu escrevi uns dois ou três artigos em que dizia que o Brasil se tornou uma sociedade complexa. O Gramsci a chamaria de ocidental, que é uma sociedade civil desenvolvida, forte e tal. Mas há dois modelos de sociedade ocidental. Há um modelo que eu chamava de americano, que é este onde há sindicalismo, mas o sindicalismo não se opõe às estruturas, há um bipartidarismo, mas os partidos são muito parecidos, e o que eu chamava de modelo europeu, onde há disputa de hegemonia. Ou seja, se alguém votava no partido comunista na Itália, sabia que estava votando em uma proposta de outra ordem social. Se alguém votava no Labour Party na Inglaterra, durante um bom tempo, pelo menos o programa deles era socialista, de socialização dos meios de produção. E quem votava no partido conservador queria conservar a ordem. O Brasil tinha como alternativa escolher um ou outro modelo. Por exemplo, havia partidos que são do tipo americano, como o PMDB, mas havia partidos que são do tipo europeu, como o PT. Havia um sindicalismo de resultado e um sindicalismo combativo (CUT, por exemplo), mas tudo isso era naquela época. Depois a hegemonia neoliberal, em grande parte, americanalhou a política mundial. A Europa hoje é exatamente isso, são partidos que diferem muito pouco entre si. Há um "americanalhamento". É um fenômeno universal e é uma prova da hegemonia forte do neoliberalismo.

Tatiana Merlino - Então o avanço da pequena sobre a grande política está sendo mundial?

Carlos Nelson Coutinho - É um fenômeno mundial, não é um fenômeno brasileiro. Mas, veja só, começam a surgir na América Latina formas que tentam romper com este modelo da pequena política. Estou falando claramente de Chávez, Evo Morales e Rafael Correa, ainda que eu não seja um chavista, até porque eu acho que o modelo que o Chávez tenta aplicar na Venezuela não é válido para o Brasil, que é uma sociedade mais complexa, mais articulada. Mas certamente é uma proposta que rompe com a pequena política. Quando o Chávez fala em socialismo, ele recoloca na ordem do dia, na agenda política, uma questão de estrutura.

Tatiana Merlino - Então é um socialismo novo, do século 21. Que socialismo é esse?

Carlos Nelson Coutinho - Eu não sei, aí tem que perguntar para o Chávez. Olha, eu não gosto dessa expressão "socialismo do século 21", eu diria "socialismo no século 21".

Renato Pompeu - E como seria o socialismo no século 21?

Carlos Nelson Coutinho - Socialismo não é um ideal ético ao qual tendemos para melhorar a ordem vigente. O socialismo é uma proposta de um novo modo de produção, de uma nova forma de sociabilidade, e nesse sentido eu acho que o socialismo é, mesmo no século 21, uma proposta de superar o capitalismo. Novidades surgiram, por exemplo: quem leu o Manifesto Comunista, como eu, vê que Marx e Engels acertaram em cheio na caracterização do capitalismo. A ideia da globalização capitalista está lá no Manifesto Comunista, o capitalismo cria um mercado mundial, se expande e vive através de crises. Essa ideia de que a crise é constitutiva do capitalismo está lá em Marx. Mas há um ponto que nós precisamos rever em Marx, e rever certas afirmações, que é o seguinte: Quem é o sujeito revolucionário? Nós imaginamos construir uma nova ordem social. Naturalmente, para ser construída, tem que ter um sujeito. Para Marx, era a classe operária industrial fabril, e ele supunha, inclusive, que ela se tomaria maioria da sociedade. Acho que isso não aconteceu. O assalariamento se generalizou, hoje praticamente todas as profissões são submetidas à lei do assalariamento, mas não se configurou a criação de uma classe operária majoritária. Pelo contrário, a classe operária tem até diminuído. Então, eu diria que este é um grande desafio dos socialistas hoje. Hoje em dia tem aquele sujeito que trabalha no seu gabinete em casa gerando mais-valia para alguma empresa, tem o operário que continua na linha de montagem .. Será que esse cara que trabalha no computador em casa se sente solidário com o operário que trabalha na linha de montagem? Você vê que é um grande desafio. Como congregar todos esses segmentos do mundo do trabalho permitindo que eles construam uma consciência mais ou menos unificada de classe e, portanto, se ponham como uma alternativa real à ordem do capital?

Renato Pompeu - Aí tem o problema dos excluídos ...

Carlos Nelson Coutinho - Eu tenho sempre dito que as condições objetivas do socialismo nunca estiveram tão presentes. Prestem atenção, o Marx, no livro 3 do "Capital", diz o seguinte: O comunismo implica na ampliação do reino da liberdade e o reino da liberdade é aquele que se situa para além da esfera do trabalho, é o reino do trabalho necessário, é o reino onde os homens explicitarão suas potencialidades, é o reino da práxis criadora. Até meio romanticamente ele chega a dizer no livro "A Ideologia Alemã" que o socialismo é o lugar onde o homem de manhã caça, de tarde pesca e de noite faz critica literária, está liberto da escravidão da divisão do trabalho. E ele diz que isso só pode ser obtido com a redução da jornada de trabalho. O capitalismo desenvolveu suas forças produtivas a tal ponto que isso se tornou uma possibilidade, a redução da jornada de trabalho, o que eliminaria o problema do desemprego. O cara trabalharia 4 horas por dia, teria emprego pata todos os outros. E por que isso não acontece? Porque as relações sociais de produção capitalista não estão interessadas nisso, não estão interessadas em manter o trabalhador com o mesmo salário e uma jornada de trabalho muito menor. Então, eu acho que as condições para que a jornada de trabalho se reduza e, portanto, se crie espaços de liberdade para a ação, para a práxis criadora dos homens, são um fenômeno objetivo real hoje no capitalismo. Mas as condições subjetivas são muito desfavoráveis. A morfologia do mundo do trabalho se modificou muito .. Muita gente vive do trabalho com condições muito diferenciadas, o que dificulta a percepção de que eles são membros de uma mesma classe social. Então, esse é um desafio que o socialismo no século 21 deve enfrentar. Um desafio também fundamental é repensar a questão da democracia no socialismo. Eu diria que, em grande parte, o mal chamado "socialismo real" fracassou porque não deu uma resposta adequada à questão da democracia. Eu acho que socialismo não é só socialização dos meios de produção - nos países do socialismo real, na verdade, foi estatização - mas é também socialização do poder político. E nós sabemos que o que aconteceu ali foi uma monopolização do poder político, uma burocratização partidária que levou a um ressecamento da democracia. A meu ver, aquilo foi uma transição bloqueada. Eu acho que os países socialistas não realizaram o comunismo, não realizaram sequer o socialismo e temos que repensar também a relação entre socialismo e democracia. Meu texto, "Democracia como valor universal", não é um abandono do socialismo. Era apenas uma maneira de repensar o vinculo entre socialismo e democracia. Era um artigo ao mesmo tempo contra a ditadura que ainda existia e contra uma visão "marxista-leninista", o pseudônimo do stalinismo, que o partido ainda tinha da democracia. Acho que este foi o limite central da renovação do partido.

Marcelo Salles - E nesse "Democracia como valor universal", você disse recentemente que defende uma coisa que não foi muito bem entendida: socialismo como condição da plena realização da democracia ...

Carlos Nelson Coutinho - Uma alteração que eu faria no velho artigo era colocar não democracia como valor universal, mas democratização como valor universal. Para mim a democracia é um processo, ela não se identifica com as formas institucionais que ela assume em determinados contextos históricos. A democratização é o processo de crescente socialização da política com maior participação na política, e, sobretudo, a socialização do poder político. Então, eu acredito que a plena socialização do poder político, ou seja, da democracia, só pode ocorrer no socialismo, porque numa sociedade capitalista sempre há déficit de cidadania. Em uma sociedade de classes, por mais que sejam universalizados os direitos, o exercício deles é limitado pela condição classista das pessoas. Neste sentido, para a plena realização da democracia, o autogoverno da sociedade só pode ser realizado no socialismo. Então, eu diria que sem democracia não há socialismo, e sem socialismo não há democracia. Acho que as duas coisas devem ser sublinhadas com igual ênfase.

Hamilton Octávio de Souza - Nós saímos de um período de 21 anos de ditadura militar, essa chamada democracia que nós vivemos, qual é o limite? O que impende o avanço mesmo que não se construa uma nova sociedade?

Carlos Nelson Coutinho - Eu acho que temos uma tendência, que me parece equivocada, de tratar os 21 anos da ditadura como se não houvesse diferenças de etapas. Eu acho, e quem viveu lembra, que, de 64 ao AI-5, era ditadura, era indiscutível, mas ainda havia uma série de possibilidades de luta. Do AI-5 até o final do governo Geisel, foi um período abertamente ditatorial. No governo Figueiredo, há um processo de abertura, um processo de democratização que vai muito além do projeto de abertura da ditadura. Tem um momento que os intelectuais mais orgânicos da ditadura, como o Golbery, por exemplo, percebem que "ou abre ou pipoca". O projeto de abertura foi então atravessado pelo que eu chamo de processo de abertura da sociedade real. Eu não concordo com o Florestan Fernandes quando ele chama a transição de conservadora. Eu acho que ocorreu ali a interferência de dois processos: um pelo alto, porque é tradicional na história brasileira as transformações serem feitas pelo alto, o que resultou na eleição de Tancredo. Mas também houve a pressão de baixo. A luta pelas "Diretas" foi uma coisa fundamental, também condicionou o que veio depois. Esta contradição se expressa muito claramente na Constituição de 88, que tem partes extremamente avançadas. Todo o capítulo social é extremamente avançado, embora a ordem econômica tenha sido mais ou menos mantida. Mas a Constituição é tanto uma contradição que o que nós vimos foi a ação dos políticos neoliberais, dos governos neoliberais de tentar mudá-la, de extirpar dela aquelas conquistas que nós podemos chamar de democráticas. Eu acho que o Brasil hoje é uma sociedade liberal-democrática no sentido de que tem instituições, voto, partidos e tal. Mas, evidentemente, é uma democracia limitada, sobretudo no sentido substantivo. A desigualdade permanece.

Hamilton Octávio de Souza - Mas hoje o que está mais estrangulado para o avanço na democracia ainda no marco de uma sociedade capitalista?

Carlos Nelson Coutinho - Eu acho que a ditadura reprimiu a esquerda, nos torturou, assassinou muitos de nós, nos obrigou ao exílio, mas não nos desmoralizou. Eu acho que a chegada do Lula ao governo foi muito nociva para a esquerda. Ninguém esperava que o governo Lula fosse empreender por decreto o socialismo, mas pelo menos um reformismo forte, né? Eu acho que a decepção que isso provocou, mais toda a história do mensalão e tal, é um dos fatores que limitam o processo de aprofundamento da democracia no Brasil. Entre outras coisas porque o governo Lula, que é um governo de centro, cooptou os movimentos sociais. Temos a honrosa exceção do MST que não é assim tão exceção porque eles são obrigados ... tem cesta básica nos assentamentos e tal, eles são obrigados também a fazer algumas concessões, mas a CUT ... Qual a diferença da CUT e da Força Sindical? Eu acho que essa transformação da política brasileira em pequena política, que se materializou com o governo Lula, que não é diferente do governo Fernando Henrique, foi o fator que bloqueou o avanço democrático. Até 2002, havia um acúmulo de forças da sociedade brasileira que apontava para o aprofundamento da democratização, e O sujeito deste processo era o PT, o movimento social. Na medida em que isso se frustrou, eu acho que houve um bloqueio no avanço democrático na época. O neoliberalismo enraizou-se muito mais fortemente na Argentina do que no Brasil porque aqui havia uma resistência do PT e dos movimentos sociais. Com a chegada ao governo, essa resistência desapareceu. Então, de certo modo, é mais fácil a classe dominante hoje fazer passar sua política em um governo petista do que em um governo onde o PT era oposição.

Tatiana Merlino - Então a conjuntura seria um pouco menos adversa se estivesse o José Serra no poder e o PT como oposição?

Carlos Nelson Coutinho - Eu não gostaria de dizer isso, mas eu acho que sim. Mas isso coloca uma questão: e se demorasse mais quatro anos para o PT chegar ao governo, ia modificar estruturalmente o que aconteceu com o PT? Até um certo momento, é clara no partido uma concepção socialista da política. A partir de um certo momento, porém, antes de Lula ir ao governo, o PT abandonou posturas mais combativas. Ele fez isso para chegar ao governo. Mas se demorasse mais quatro anos, ou oito anos, não aconteceria o mesmo? Não sei. Não quero ser pessimista também, não era fatal o que aconteceu com o PT.

Renato Pompeu - Você é professor de qual disciplina?

Carlos Nelson Coutinho - De teoria política.

Renato Pompeu - Você é um cientista político ou um filósofo da política?

Carlos Nelson Coutinho - Não, não. Filósofo tudo bem, mas cientista político não. Porque ciência política para mim; aquela coisa que os americanos fazem, ou seja, pesquisa dc opinião, sistema partidário, a ciência política é a teoria da pequena política. Eu sou professor da Escola de Serviço Social.

Hamilton Octávio de Souza - Que projeto que você identifica hoje no panorama brasileiro: a burguesia nacional tem um projeto? As correntes de esquerda têm um projeto? Existe um projeto de nação hoje?

Carlos Nelson Coutinho - Isso é um conceito interessante, porque este é um conceito criado em grande parte pela Internacional Comunista e pelo PCB, de que haveria uma burguesia nacional oposta ao imperialismo. Eu me lembro quando eu entrei no partido, eu era meio esquerdista e vivia perguntando ao secretário-geral do partido na Bahia: Quem são os membros da burguesia nacional? E um dia ele me respondeu: "José Ermírio de Moraes e Fernando Gasparian". Olha, duas pessoas não fazem uma classe. Do ponto de vista nosso, da esquerda, uma das razões da crise do socialismo, das dificuldades que vive o socialismo hoje, é a falta de um projeto. A social-democracia já abandonou o socialismo há muito tempo, e nos partidos de esquerda antagonistas ao capitalismo há uma dificuldade de formulação de um projeto exequível de socialismo. Na maioria dos casos, esses partidos defendem a permanência do Estado do bem-estar social que está sendo desconstruído pelo liberalismo. É uma estratégia defensivista. Essa é outra condição subjetiva que falta, a formulação clara de um projeto socialista. Do ponto de vista das classes dominantes, eu acho que eles têm um projeto que estava claro até o momento da crise do neoliberalismo. Foi o que marcou o governo Collor e o governo Fernando Henrique e o que está marcando também o governo Lula, com variações. Evidentemente, há diferenças, embora a meu ver, não estruturais. Esse é o projeto da burguesia. Com a crise, eu acho que algumas coisas foram alteradas, então, uma certa dose de keynesianismo se tomou inevitável, mas sempre em favor do capital e nunca em favor da classe trabalhadora. Tenho um amigo que diz. "Estado mínimo para os trabalhadores e máximo para o capital". No fundo, é essa a proposta do neoliberalismo: desconstrução de direitos, concessão total de todas as relações sociais ao mercado, subordinação do público ao privado, ao capital internacional. Não há burguesia anti-imperialista no Brasil, definitivamente. Pode haver um burguês que briga com o seu concorrente e o seu concorrente é um estrangeiro, mas nem assim ele vai ser anti-imperialista.

Hamilton Octávio de Souza - Você vê alguma alteração a curto prazo?

Carlos Nelson Coutinho - O que poderia mudar isso seria um fortalecimento dos movimentos sociais, da sociedade civil organizada sob a hegemonia da esquerda. E pressionar para que reformas fossem feitas e se retomasse uma política econômica mais voltada para as classes populares, Tem um mote de Gramsci que eu acho muito válido, que é: "pessimismo da inteligência e otimismo da vontade". A esquerda não pode ser otimista numa análise do que está acontecendo no mundo porque a esquerda tem perdido sucessivas batalhas. Então ser otimista frente a um quadro desses é difícil. Quanto mais nós somos pessimistas, mais otimismo da vontade temos de ter, mais a gente deve ter clareza que só atuando, só dedicando todo o nosso empenho à mudança disso é que essa coisa pode ser mudada. Então, a esperança de mudança seguramente há, há potencialidades escondidas na atual sociedade que permitem ver e pensar a superação do capitalismo. O capital não pode perdurar. A alternativa ao socialismo, como dizia a Rosa Luxemburgo, é a barbárie. Se o capitalismo continuar, teremos cada vez mais uma barbarização da sociedade que nós já estamos assistindo,

Hamilton Octávio de Souza - Por conta do neoliberalismo, tivemos um aumento do desemprego estrutural, a informalidade do trabalho, o desrespeito à legislação trabalhista, estamos numa condição de perdas de conquistas, direitos. Como é que se explica a fraqueza do movimento social diante disso?

Carlos Nelson Coutinho - À certeza que nós temos de que o capitalismo não vai resolver os problemas nem do mundo nem do Brasil nos faz acreditar que, primeiro, a história não acabou, e, portanto, ela está se movendo no sentido de contestar a independência barbarizante do capital. Onde eu vejo focos, no Brasil de hoje, é no MST. Uma coisa que funciona muito bem no MST é a preocupação deles com a formação dos quadros. Eu fui de um partido, o PCB, que tinha curso, mas as pessoas iam para Moscou, faziam a escola do partido. O PT nunca se preocupou com formação de quadros, não; tinham escolas, e o MST tem. Eu acho que o MST tem uma ambiguidade de fundo que é complicada. Ele é um movimento social e, como todo movimento social, ele é particularista, defende o interesse dos trabalhadores que querem terra. Essa não pode ser uma demanda generalizada da sociedade. Eu não quero um pequeno pedaço de terra, nem você. O partido político é quem universaliza as demandas, formula uma proposta de sociedade que engloba as demandas dos camponeses, proletários, das mulheres ... O MST tem uma ambiguidade porque ele é um movimento que frequentemente atua como partido. Eu acho que isso às vezes limita a ação do MST.

Marcelo Salles - O termo "Ditadura do Proletariado" que vez ou outra algum liberal usa...

Carlos Nelson Coutinho - Na época de Marx, ditadura não tinha o sentido de despotismo que passou a ter depois. Ditadura é um instituto do direito romano clássico que estabelecia que, quando havia uma crise social, o Senado nomeava um ditador, que era um sujeito que tinha poderes ilimitados durante um curto período de tempo. Resolvida a crise social, voltava a forma não ditatorial de governo. Então, quando o Marx fala isso, ele insiste muito que é um período transitório: a ditadura vai levar ao comunismo, que para ele é uma sociedade sem Estado. Ele se refere a um regime que tem parlamento, que o parlamento é periodicamente reeleito, e que há a revogabilidade de mandato. Então, essa expressão foi muito utilizada impropriamente tanto por marxistas quanto por antimarxistas. Apesar de que em Lênin eu acho que a ditadura do proletariado assume alguns traços meio preocupantes. Em uma polêmica com o Kautsky, ele diz: ditadura é o regime acima de qualquer lei. Lênin não era Stálin, mas uma afirmação desta abriu caminho para que Stálin exercesse o poder autocrático, fora de qualquer regra do jogo, acima da lei. Tinha lei, tinha uma Constituição que era extremamente democrática, só que não valia nada.

Marcelo Salles - Estão sempre dizendo que não teria liberdade de expressão no socialismo, porque o Estado seria muito forte, e teria o partido único ...

Carlos Nelson Coutinho - Em primeiro lugar, não é necessário que no socialismo haja partido único, e não é desejável, até porque, poucas pessoas sabem, mas no início da revolução bolchevique o primeiro governo era bipartidário. Era o partido bolchevique e o partido social-revolucionário de esquerda. Depois, eles brigaram e ficou um partido só. Mas não é necessário que haja monopartidarismo. Segundo, Rosa Luxemburgo, marxista, comunista, que apoiou a revolução bolchevique, dizia o seguinte: liberdade de pensamento é a liberdade de quem pensa diferente de nós. Então, não há na tradição marxista a ideia de que não haja liberdade de expressão, mas uma coisa é liberdade de expressão e outra coisa é o monopólio da expressão. Liberdade de expressão sim, contanto que não seja uma falsa liberdade de expressão. Eu acho que o socialismo é condição de uma assertiva liberdade de expressão.

Fonte: Caros Amigos de dezembro de 2009